O RESTO DO MUNDO
Silvânia Andréia
Caros Leitores,
Para reflexão:
O RESTO DO MUNDO
Eu queria
morar numa favela
Eu queria
morar numa favela
Eu queria
morar numa favela
O meu
sonho é morar numa favela
Eu me
chamo de excluído como alguém me chamou
Mas pode
me chamar do que quiser seu doutor
Eu não
tenho nome
Eu não
tenho identidade
Eu não
tenho nem certeza se eu sou gente de verdade
Eu não
tenho nada
Mas
gostaria de ter
Aproveita
seu doutor e dá um trocado pra eu comer...
Eu
gostaria de ter um pingo de orgulho
Mas isso
é impossível pra quem come o entulho
Misturado
com os ratos e com as baratas
E com o
papel higiênico usado
Nas latas
de lixo
Eu vivo
como um bicho ou pior que isso
Eu sou o
resto
O resto
do mundo
Eu sou
mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou...
Eu não sou ninguém
Eu to com
fome
Tenho que
me alimentar
Eu posso
não ter nome, mas o estômago tá lá
Por isso
eu tenho que ser cara-de-pau
Ou eu
peço dinheiro ou fico aqui passando mal
Tenho que
me rebaixar a esse ponto porque a necessidade é maior do que a
Oral
Eu sou
sujo eu sou feio eu sou anti-social
Eu não
posso aparecer na foto do cartão postal
Porque
pro rico e pro turista eu sou poluição
Sei que
sou um brasileiro
Mas eu
não sou cidadão
Eu não
tenho dignidade ou um teto pra morar
E o meu
banheiro é a rua
E sem
papel pra me limpar
Honra?
Não tenho
Eu já
nasci sem ela
E o meu
sonho é morar numa favela
Eu queria
morar numa favela
Eu queria
morar numa favela
Eu queria
morar numa favela
O meu
sonho é morar numa favela
A minha
vida é um pesadelo e eu não consigo acordar
E eu não
tenho perspectivas de sair do lugar
A minha
sina é suportar viver abaixo do chão
E ser um
resto solitário esquecido na multidão
Eu sou o
resto
O resto
do mundo
Eu sou
mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou o
resto do mundo
Eu não
sou ninguém
Eu não
sou nada
Eu não
sou gente
Eu sou o
resto do mundo
Eu sou
mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou o
resto
Eu não
sou ninguém
Frustração
É o
resumo do meu ser
Eu sou
filho da miséria e o meu castigo é viver
Eu vejo
gente nascendo com a vida ganha e eu não tenho uma chance
Deus, me
diga por quê?
Eu sei
que a maioria do Brasil é pobre
Mas eu
não chego a ser pobre eu sou podre!
Um
fracassado
Mas não
fui eu que fracassei
Porque eu
não pude tentar
Então que
culpa eu terei
Quando eu
me revoltar quebrar queimar matar
Não tenho
nada a perder
Meu dia
vai chegar
Será que
vai chagar?
Mas por
enquanto
Eu sou o
resto
O resto
do mundo
Eu sou
mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou o
resto do mundo
Eu não
sou ninguém
Eu não
sou nada
Eu não
sou gente
Eu sou o
resto do mundo
Eu sou
mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou o
resto
Eu não
sou ninguém
Eu não
sou registrado
Eu não
sou batizado
Eu não
sou civilizado
Eu não
sou filho do Senhor
Eu não
sou computador
Eu não
sou consultado
Eu não
sou vacinado
Contribuinte
eu não sou
Eu não
sou comemorado
Eu não
sou considerado
Eu não
sou empregado
Eu não
sou consumidor
Eu não
sou amado
Eu não
sou respeitado
Eu não
sou perdoado
Mas
também sou pecador
Eu não
sou representado por ninguém
Eu não
sou apresentado pra ninguém
Eu não
sou convidado de ninguém
E eu não
posso ser visitado por ninguém
Além da
minha triste sobrevivência eu tento entender a razão da minha
Existência
Por que
que eu nasci?
Por que
eu to aqui?
Um
penetra no inferno sem lugar pra fugir
Vivo na
solidão mas não tenho privacidade
E não
conheço a sensação de ter um lar de verdade
Eu sei
que eu não tenho ninguém pra dividir o barraco comigo
Mas eu
queria morar numa favela, amigo
Eu queria
morar numa favela
Eu queria
morar numa favela
Eu queria
morar numa favela
O meu
sonho é morar numa favela.
TÍTULO I
- DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Art.1º A República Federativa do Brasil, formada
pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos:
I – a
soberania;
II – a
cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana.
Art. 3ª
Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - Construir uma sociedade livre , justa e
solidária;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e
reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV – Promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
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